Novas faces da evangelização
Artigo sobre a missão franciscana da FAE em Curitibanos (SC). Por Frei Camilo Donizete Evaristo Martins, Frei Gabriel Vargas Dias Alves e Wellington Minoru Kihara
"Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos" 1 Cor 12,6
É sensível o esforço do papa Francisco em seu pontificado por uma "Igreja em saída", promotora da paz e difusora de uma "cultura do encontro", onde distanciamentos sociais, culturais e ideológicos dos mais variados não raras vezes se constituem em barreiras quase intransponíveis que segregam e excluem. Por isso, a missão na Província, além de ser uma frente de evangelização, se constitui como um modo de ser Igreja e uma transversalidade que perpassa e une as diversas frentes, par e passo, no mesmo caminho.
Nos dias 9 a 11 de novembro, paróquia e educação se uniram na primeira missão realizada pela Pastoral Universitária da FAE em parceria com a paróquia Imaculada Conceição de Curitibanos. O local foi escolhido dada a força da presença franciscana que data de meados de 1894 e um dos grupos jovens mais antigos do Brasil, com atividade ininterrupta há 46 anos, a JUCE (Jovens Unidos em Cristo Encontristas).
Em sua primeira edição, a Missão Franciscana FAE contou com a presença dos freis, de leigos da Pastoral Universitária e da paróquia, 18 universitários e mais de 40 jovens da JUCE. A iniciativa bebeu da fonte da mística franciscana e do Espírito de Assis unindo jovens cristão católicos, evangélicos de diferentes denominações, espíritas, uma budista, uma bahá'í e um jovem sem religião. Um pequeno retrato da diversidade presente no ambiente universitário unido pelo mesmo objetivo: promover a paz e o bem.
As diferenças religiosas e culturais rapidamente deram lugar a um espírito fraterno inesperado que nos surpreendeu positivamente ao ver todos se esforçando para aprender a cantar as novas canções ou mesmo os passos contagiantes que as animavam. A atividade de animação deu lugar a um profundo momento de oração conduzido pela JUCE que tocou sensibilidades para além das diferenças religiosas. Depois da oração, os jovens foram divididos para as diversas famílias que os acolheriam.
Na manhã seguinte (10), no centro comunitário, os Jovens da JUCE e da FAE foram misturados e depois separados em pequenos grupos para visitar as casas da comunidade Santo Antônio pertencente à paróquia. Nas casas os jovens conversaram, partilharam das histórias simples do povo, falaram sobre a unidade pela paz e o bem comum e rezaram a partir da sua diversidade. Muitas famílias, que a princípio estranharam a iniciativa, saíram emocionadas e agradecidas, também muitas vezes por experimentarem a diversidade nem sempre pacífica em suas casas.
Após o almoço, os grupos foram redivididos e, aproveitando o caráter acadêmico e social da Pastoral Universitária, os jovens ministraram oficinas em quatro locais, atendendo às demandas específicas apresentadas por eles. Na Escola de Educação Básica Santa Teresinha e no Centro de Educação Santa Teresinha, foram ministradas oficinas de produção e gravação de vídeo, fotografia, contação de histórias, maquiagem, dobradura de papel, skate e patins. Na casa de acolhimento de idosos Associação Beneficente Frei Rogério, foram desenvolvidas diversas atividades lúdicas, como bingo, dança e muita partilha de vida entre as gerações. Na Comunidade Fonte de Misericórdia, uma comunidade de vida cujo carisma é o acolhimento de pessoas que sofrem com dependência química ou alcoolismo, foi promovida uma oficina para trabalhar a autoestima dos irmãos que lá estão.
No fim da tarde, todos se reuniram novamente para partilhar as experiências vividas desde a chegada. Emocionados, partilharam experiências pelas quais nunca haviam passado, de modo especial as visitas às casas com a oportunidade de ouvir tantas histórias de vida e de poder oferecer suas palavras de paz e de bem. Quando o dia poderia estar já terminando devido ao cansaço de todos, na verdade só estava na metade. Ao anoitecer se deu uma rica noite cultural com diversas apresentações de teatro, música e dança, nos brindando com muito talento e empenho. Já pelas dez da noite, quando terminou a noite cultural, era possível ver a unidade de pessoas que já não se apresentavam mais como estranhas, mas amigos de longa data. E o tempo nunca é demais quando se está entre amigos. Assim, por iniciativa dos jovens a noite continuou com jogos de futebol e vôlei seguidos de lanches nas famílias acolhedoras madrugada adentro.
Na manhã de domingo, com um pouco de dificuldade devido às poucas horas de sono, nos reunimos com nossos anfitriões para celebrar a eucaristia na matriz, presidida pelo pároco frei Roberto Carlos Nunes. Na celebração, novamente foi enfatizada a mensagem que a missão FAE gostaria de deixar: “somos capazes de olharmos uns para os outros e nos enxergarmos irmãos. Ao nos vermos irmãos, as diferenças se tornam pequenas diante do objetivo comum de tornar o mundo um lugar mais fraterno e mais humano”.
Como última atividade oficial, nos reunimos em frente ao monumento do sino da paz de Curitibanos. O sino foi doado pela Província de Nagasaki à comunidade nipônica da cidade, junto do qual anualmente se reza pelas vítimas das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. No monumento rezamos juntos em ação de graças pela missão e por um mundo onde o ódio e a divisão dê lugar à paz. Diversos jovens contribuíram para esse momento de oração a partir do modo próprio de rezar da sua tradição fazendo memória ao Espírito de Assis.
Como bons franciscanos, encerramos a nossa missão com um belo almoço preparado pela comunidade e pudemos perceber, em tantos olhos marejados, que realmente Deus opera de formas que às vezes não imaginamos. Agradecemos a todos que se doaram para a realização desse trabalho, deixamos um pouco de nós e trouxemos um pouco desse povo acolhedor em nossos corações.
Artigo produzido por:
Frei Camilo Donizete Evaristo Martins
Frei Gabriel Vargas Dias Alves
Wellington Minoru Kihara, da Pastoral Universitária da FAE