24.01.2020
Oportunidades de trabalho para a indústria 4.0 continuarão em alta nos próximos anos
link copiado
Compartilhe:
Como os profissionais podem se qualificar para atender aos novos requisitos de empresas 4.0 e se tornar alvos de consultorias de recrutamento
Junto com o aumento de postos de trabalho na indústria 4.0 cresce também a necessidade de capacitação profissional. Para Jameson Emanoel Moreira, professor da pós-graduação em Gestão de Operações – Indústria 4.0 da FAE Business School, os novos requisitos para atuação profissional nas cadeias industriais automatizadas sugerem o desenvolvimento de "profissionais 4.0". “Eles vão além de uma formação tecnóloga ou de graduação, pois esses certificados resultaram na obtenção de uma pequena parte das necessidades geradas por este movimento mundo afora”, explica.
Esses novos profissionais, de acordo com Moreira, deverão ser flexíveis e adeptos das mudanças, possuir senso crítico e de urgência e, ainda, ser engajados na busca contínua da melhoria da performance de entrega. “O último comportamento que se espera neste contexto é o medo do novo”, destaca.
Da mesma maneira, o professor de Automação 4.0 na pós-graduação da FAE Business School, Felipe Araújo Kluska, acredita que o perfil “profissional 4.0” é de alguém que tem uma visão sobre as atuais tecnologias, podendo ajudar a transformar dados em informação, sendo essa a maior contribuição da indústria 4.0. “A forma como os profissionais e as empresas 4.0 lidam com dados hoje, olhando para eles, fazendo predições e análises estatísticas permite, muitas vezes, prever movimentos futuros do segmento em que atuam, mas para isso é necessário desenvolver habilidades específicas que vão além do domínio da tecnologia. De modo geral, o profissional da indústria 4.0 não precisa, necessariamente, ser especialista em tecnologias específicas, mas precisa compreender o organismo gerencial dos processos em que atua, as tecnologias instaladas e disponíveis, usando as tecnologias 4.0 a seu favor e das melhorias de produção”, defende.
Formação multidisciplinar
A premissa da formação de profissionais para a indústria 4.0 é ser multidisciplinar. Segundo Moreira, quem atua nessa área precisa ter perfil adaptável aos cenários de mudança, dominando ferramentas e competências emocionais. “É necessário ser flexível para integração ágil a novas culturas de negócios e habilitado para o desenvolvimento de trabalhos colaborativos. Dificilmente neste novo modelo este profissional vai desempenhar funções repetitivas, pois para isso temos ferramentas simples e baratas que já têm espaço nas empresas, como por exemplo o Microsoft Excel e suas macros de repetição ou ainda sistemas de estacionamento com cancelas eletrônicas”, explica.
Já para Kluska, a formação ideal dependerá da atuação do profissional. “Para profissionais mais técnicos, eu recomendaria uma especialização mais abrangente, correlacionando, por exemplo, a aplicação de conhecimento de sensores, inteligência artificial e big data, com a finalidade de aplicar técnicas e conhecimentos que colaborem com as camadas mais estratégicas do negócio. Contudo, se o interesse é atuar numa camada mais superior da organização, é necessário entender a base dos pilares da indústria 4.0, pois eles estarão obrigatoriamente presentes no dia a dia desse profissional, fornecendo os dados convertidos em informações, conhecimento básico sobre tecnologias que podem auxiliar a produção ou tomadas de decisão, além de vantagens competitivas de mercado”, analisa.
Tendências profissionais para indústria 4.0
As grandes empresas, independentemente do segmento de atuação, serão diretamente impactadas nesta primeira onda da quarta revolução industrial. Ao lado delas, empresas de pequeno e médio portes também terão vez neste movimento, considerando que a industrialização automatizada contribui diretamente para a redução de desperdícios de materiais, tempo e capacidade intelectual nos processos produtivos, o que por décadas vem sendo o grande inimigo das PMEs. “Além disso, novos nichos de mercado estão se abrindo com esta revolução, o que resulta em oportunidades para novos entrantes no segmento de automação. Consequentemente a evolução da concorrência possibilitará acesso às tecnologias, resultando na reconfiguração da estrutura operacional também das empresas menores”, analisa Moreira.
Kluska, por sua vez, percebe o setor logístico com uma forte demanda por conhecimento técnico relacionado com processos, infraestrutura e natureza do negócio. “O setor de logística sempre teve importância vital para todos os outros setores, uma vez que este impacta diretamente nas condições temporais de serviços, manufaturas ou produtos. Empresas como Alibaba, Amazon, DHL, entre outras, têm buscado empregar tecnologias sofisticadas e avançadas para a diminuição de erros/falhas, aumentando sua eficiência, entre outros fatores óbvios. Mas estes ganhos positivos têm permitido a eles entrarem em novos mercados, perimetrais ao seu mercado, conquistando novos clientes e evoluindo seus objetivos de negócio. Um exemplo disso é a Amazon, que desenvolveu diversos serviços internos cloud, computacionais, de IA, entre outros, para atender necessidades de logística interna e de seu e-commerce, mas que, enxergando o poder dessas tecnologias, lançou a AWS, Amazon Web Service, que hoje é a plataforma cloud mais usada e abrangente do mundo. Agora, quanto aos profissionais tendência no mercado e que continuarão em alta, aqueles que atuam com automação e controle serão destaques. Isso pela natureza da sua formação que compreende o universo da integração das engenharias mecânica, elétrica/eletrônica e computação”, avalia.
Carreira 4.0
Para se destacar neste novo cenário, Moreira acredita que o profissional deve definir uma estratégia de segmento, buscando um nicho de mercado com o qual tem maior afinidade, uma vez que esta também vem a ser uma nova condição do mercado: que as pessoas estejam "felizes" onde trabalham e em razão dessa condição emocional estejam mais engajadas nos resultados corporativos. “A partir disso, o profissional poderá buscar conhecimento mais abrangente sobre as tecnologias existentes e disponíveis para que tenha condição de entender e conectar as cadeias produtivas de ponta a ponta”, orienta o também professor de Mapeamento e Modelagem de Processos e de Planejamento e Controle de Operações da pós-graduação da FAE Business School.
Kluska acredita na importância de uma especialização voltada ao desenvolvimento de habilidades para a indústria 4.0. “A formação básica técnica, tecnóloga ou superior é necessária, isso é indiscutível. Agora, um curso de especialização para que se possa entender melhor todos os pilares da indústria 4.0 e a aplicação de foco em algum destes pilares pode destacar o profissional de forma única. Como engenheiro, gestor de equipe offshore de desenvolvimento, gerente de engenharia de projetos de desenvolvimento em nível global, e diretor, em empresas das áreas offshore, portuária, manufatura e industrial, aliado à formação acadêmica, vejo que profissionais com habilidades desenvolvidas, com maior foco em alguns dos pilares, além da visão geral sobre a indústria 4.0, se destacam e são alvos de consultorias de recrutamento, apontando um mercado aquecido para tais profissionais”, conclui.
Esse conteúdo foi publicado no Carreira e Futuro, do G1 Paraná.
Imagem: Shutterstock
link copiado
Compartilhe: