02.04.2019

Negócios com propósito


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Entenda como atua o empreendedor que contribui para a solução de um problema da sociedade via negócios rentáveis e de alto impacto
Entenda como atua o empreendedor que contribui para a solução de um problema da sociedade via negócios rentáveis e de alto impacto
Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Brasil tem 17 milhões de pequenos negócios, que representam 99% do total de empresas do país e contabilizam 27% do Produto Interno Bruto (PIB). Dentro desse universo, o número de negócios de impacto no Brasil e no mundo cresceu a ponto de movimentar cerca de US$ 60 bilhões, além de registrar um aumento aproximado de 7% ao ano, segundo levantamento da Ande Brasil (Aspen Network of Development Entrepreneurs), uma rede de empreendedores de países em desenvolvimento. Em uma pesquisa realizada com a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), foram alocados US$ 1,3 bilhão em investimentos de impacto na América Latina em 2014 e 2015 e o Brasil foi o segundo maior mercado da região.

Mas o que é o empreendedorismo social na prática? É empreender para resolver um problema da sociedade unindo os resultados financeiros com a geração de benefícios para a comunidade. Para Lina Useche, professora da FAE Business School e cofundadora da ONG Aliança Empreendedora, tudo começa na teoria da effectuation. Essa teoria ganhou o mundo e surgiu na tese de doutorado de Sara Sarasvathy, professora da Darden School of Business. Ela fez uma pesquisa para entender o que fazia uma pessoa se tornar empreendedora. Em sua descoberta, Sara comprova cientificamente que todos podem empreender e apresenta o triângulo de effectuation, segundo o qual o empreendedor experiente ativa três pilares fundamentais:
  • Quem sou (tudo aquilo que me identifica)
  • O que sei (experiências profissionais e conhecimentos adquiridos)
  • Quem conheço (rede de contatos)
“Essa teoria se aplica a tudo, e no empreendedorismo social não é diferente. A primeira etapa é o processo de autoconhecimento, começar por aquilo que sabe e por sua rede de contatos. Focar somente no mundo exterior pode ser um tiro no pé, pois somos muito mais efetivos trabalhando por uma paixão que nos move”, acrescenta Lina.

O segundo passo mais importante para se tornar um empreendedor social é colocar o negócio para rodar. Não necessariamente com um CNPJ, mas colocando os talentos em prol da ação desejada, seja por meio de voluntariado, consultoria em outras empresas ou trabalhos freelancer. “Esperar demais para testar o produto em um mercado real pode tornar seu plano obsoleto. Quanto antes você testa, melhor. Por isso, é preciso começar de uma forma enxuta e flexível, para acertar, errar e readaptar se necessário”, afirma a professora.

Depois que você já testou o produto ou o serviço, a modelagem de negócio é a cereja no topo do bolo, assegurando a geração de receita, a definição clara de quem é o cliente e de quem é o beneficiado. “Se você não tiver um modelo de negócio que sustente sua ideia, ela pode morrer muito rápido, porque não vai conseguir se sustentar financeiramente”, conclui.

Experiência pessoal e negócio social
O professor da FAE Business School e cofundador da ONG Asid Brasil, Alexandre Amorim, conta que a Asid começou a partir da vivência familiar com pessoas com síndrome de Down e autismo. “Percebemos em nosso dia a dia a necessidade de projetos para uma sociedade mais inclusiva, tanto no mercado de trabalho quanto em escolas, incluindo a aceitação das próprias famílias”, conta.

Os fundadores se envolveram durante mais de um ano para tirar a ideia do papel e transformá-la em negócio. Tiveram 88 projetos negados e na octogésima nona tentativa conseguiram o apoio necessário para virar um negócio funcional. “Hoje temos um projeto social de atuação nacional que envolve grandes empresas com voluntariado corporativo e contratação de pessoas com deficiência. É importante salientar que um negócio social precisa ter impacto, mas também precisa se sustentar. Por isso, o lado financeiro é fundamental e cursos focados em Empreendedorismo e Negócios Sociais, como a pós-graduação oferecida na FAE Business School, têm se tornado cada vez mais relevantes e necessários”, destaca.

Conhecimento aplicado
Hoje há mais de 800 negócios de impacto social em todo o país, segundo pesquisa do Sebrae em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O coordenador do curso de pós-graduação em Empreendedorismo e Negócios Sociais da FAE Business School, Paulo Cruz Filho, reforça que é possível ensinar um aluno a ser um empreendedor social. “São duas vias: a primeira através de ferramentas de empreendedorismo tradicionais e racionais. Tudo que a gente fala hoje de startups e modelos de negócio está dentro do empreendedorismo social, somado ao impacto socioambiental. Isso é aprendido em campo e na prática. O outro lado é o interior, com o empreendedor social entendendo quem ele é, qual é o seu perfil e sua personalidade. Esse autoconhecimento é crucial, porque não existe uma fórmula idêntica para todos. Por isso, criamos um processo integrado de mentoria individual, de forma que os alunos possam combinar essas duas vias, usando suas competências e ferramentas aprendidas na prática, com o nosso acompanhamento personalizado”, explica.

Para se tornar um empreendedor social, é preciso vontade e vocação. “Você precisa sentir no seu coração que o impacto faz sentido, faz parte de você, e que trabalhar para o bem dos outros e da sociedade é o que faz você feliz”, finaliza o professor.

Esse conteúdo foi publicado no Carreira e Futuro, do G1 Paraná.

Imagem: Unsplash


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