13.12.2017
Web Summit 2017 - tendências de carreira e negócios
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Confira artigo da professora da FAE Business Schoool, Patricia Piana Presas
Paddy Cosgrave, fundador do evento, assegurou na abertura que "o impacto da tecnologia está apenas começando”. E nessa hora, o cientista Stephen Hawking – umas das mentes mais brilhantes da nossa era – tomou o palco principal, em uma transmissão em vídeo, dando o tom do que seriam os dias seguintes do evento: “Nós não conseguimos prever o que podemos alcançar quando as nossas mentes são ampliadas pela inteligência artificial. Com as ferramentas desta nova revolução tecnológica todos os aspectos da nossa vida mudarão”.
Assim foi o Web Summit: intenso e repleto de palestras, conferências e debates relacionados à inteligência artificial, machine learning, realidade aumentada, big data, empreendedorismo, mobilidade, saúde, esportes, educação e tecnologia. Se eu puder resumir o evento em apenas uma ideia central, ficou claro que o mundo mudou e que nas próximas décadas a inteligência artificial estabelecerá a base estrutural da nossa sociedade, onde todas as coisas estarão conectadas à internet, e também cada um de nós será parte desse ecossistema.
Além dos 1.200 conferencistas, durante todo o evento mais de 2 mil startups se revezaram nos três pavilhões do Parque das Nações, apresentando suas propostas e fazendo seus pitchs. Das ideias mais surpreendentes às mais surreais, todos tiveram a oportunidade de mostrar suas propostas. Entre ideias disruptivas, aplicativos para resolver problemas ou simplesmente propostas que são tendências de consumo, um prêmio patrocinado pela Mercedes-Benz entregou 50 mil euros e acesso a um programa de aceleração para a melhor ideia: a Lifeina, uma startup francesa, que desenvolveu o Life in a Box, uma minigeladeira portátil para transportar medicamentos a determinada temperatura.
Faço um resumo rápido das principais tendências que pude acompanhar durante o Web Summit 2017:
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
A inteligência artificial foi um dos tópicos mais abordados em todo o Web Summit. Uma das principais palestras sobre o tema foi com Amit Singh, vice-presidente Business&Operations da Google, que levou ao palco Sophia, a primeira cidadã-robô do mundo, em um debate com o robô de Albert Einstein.
Alguns bons debates abordaram se a inovação da inteligência artificial irá e/ou não acabar com os empregos. Para a consultoria EY, em sete anos um em cada três empregos pode ser substituído por sistemas de tecnologia inteligente. Já o Fórum Econômico Mundial estima que a inteligência artificial possa vir a destruir 5 milhões de empregos até 2020. Alguns exemplos são a Amazon, que desenvolveu um sistema que substituiu por robôs milhares de operadores que catalogavam e organizavam suas encomendas; ou a Mastercard, que estabeleceu parcerias com algumas startups que desenvolvem soluções de pagamento; ou ainda a Microsoft, que por meio do projeto Premonition, apresentado pelo estrategista ambiental da Microsoft, Robert Bernard, que pretende identificar em poucos anos todas as espécies animais desconhecidas, o que, segundo ele, “demoraria 500 anos se continuássemos a usar o método de identificação manual que ainda usamos”.
No evento, o cientista-chefe da Hanson Robotics, Ben Goestzel, anunciou que em 2018 pretende lançar o SingularityNET, um mercado aberto e descentralizado de AI, apoiado pela tecnologia blokchain.
Por isso, vale a reflexão em relação à necessidade de mudarmos a forma como aprendemos, como ensinamos e como temos que nos especializar e incentivar o talento de muitos por aí.
NOVA MOBILIDADE URBANA
As questões de mobilidade e segurança no trânsito foram a ruptura de tudo o que conhecemos. De carros autônomos à parceria entre a Volkswagen e a Google, passando por algoritmos para bicicletas de aluguel, até transporte aéreo por aplicativo, teve de tudo um pouco durante o Web Summit.
John Krafcik apresentou o Waymo, um carro totalmente autônomo e sem condutor, que já está circulando pelos Estados Unidos. O que vale destacar é que até agora os testes com carros autônomos eram feitos com um condutor disponível para assumir o controle do carro quando necessário. Krafcik lançou um vídeo comprovando a eficiência do Waymo, grande parte desenvolvida quando ainda era uma divisão da Google, mostrando que é possível manter o carro em circulação sem ninguém no lugar do motorista.
Outro lançamento apresentado durante o Web Summit foi o UberAir. Jeff Holden, diretor de produto da Uber, contou que começará a testar em 2020 o serviço de transporte com veículos voadores tripulados na mais congestionada cidade do mundo, Los Angeles, e desafiou a todos, garantindo que o serviço terá um custo comparável ao do UberX. Destaque para a Embraer, que é uma das empresas que investem no projeto, além da Nasa, para o desenvolvimento de tecnologias que permitirão controlar o tráfego aéreo de baixa altitude.
O CEO da Intel, Brian Krzanich, avaliou a interseção entre o big data e a inteligência artificial, trazendo ao palco o Movidius, um produto de interface com a capacidade de aprender e de gerenciar algoritmos e que já é utilizada em drones na Austrália para a identificação de tubarões e salvamento em caso de afogamento. E também o veículo autônomo da Ford, com capacidade para tomar decisões em relação ao caminho a seguir e/ou onde estacionar.
EDUCAÇÃO
Mmantsetsa Marope, diretora-geral da Unesco para a educação, falou em sua conferência sobre a relação da educação formal com as inovações tecnológicas e as novas profissões. Para ela, a educação é a chave para o sucesso e, mesmo tendo que se adaptar aos novos tempos, “não deve alterar a sua gênese, mas sim capacitar as pessoas com ferramentas úteis para que sejam motores de mudança capazes de interagir, de trabalhar em equipe e de se adaptar” e assim inovar e mudar o mundo.
EMPODERAMENTO
Estamos em 2017 e a diversidade, o empoderamento feminino e o assédio ainda continuam sendo temas de debates e discussões, e também no Web Summit. Um dos momentos marcantes foi a presença de Caitlyn Jenner no palco falando sobre gênero e direitos transexuais. Um bate-papo sobre essa temática rolou entre a modelo portuguesa Sara Sampaio e a atriz americana Rosario Dawson, que disse que “esta é a geração que aprendeu o que é a tolerância, mas é a mesma que nos disse que as mulheres têm um papel na sociedade. Eu não quero que as pessoas entendam nossos direitos daqui a 35 anos. Quero que entendam agora”.
E também um painel de discussão com o tema Sexismo no Vale, em que uma das participantes, uma investidora do Vale do Silício, pressionou as empresas a terem políticas ligadas ao controle do assédio sexual como parte do processo de avaliação para investir em startups.
POLÍTICAS PÚBLICAS E TECNOLOGIA
A tecnologia sob a ótica da política e a política sob a ótica da tecnologia. Na abertura do Web Summit, houve a participação de António Guterres, Secretário-Geral da ONU; no segundo dia, a presença de Brad Parscale, diretor digital da campanha presidencial de Donald Trump e também de François Hollande, ex-presidente da França; e no encerramento o palco foi tomado pela força de Al Gore, Nobel da Paz e ex-vice-presidente dos EUA.
Robert Opp, do Programa Mundial de Alimentos da ONU, falou sobre como a tecnologia está sendo pensada para resolver a fome no mundo até 2030.
A apresentação de Al Gore encerrou o Web Summit com um discurso entusiasmado, convocando a indústria tecnológica para a causa da mudança climática. “Venho aqui recrutá-los para serem parte da solução da crise ambiental e ecológica. Porque nós podemos resolver este problema, temos que resolver e vamos resolver”.
Enfim, uma tarefa tão difícil quanto conseguir ir a todas as palestras, eventos, ver e ouvir todos os empreendedores e suas ideias/startups é tentar resumir o que aconteceu no Web Summit 2017.
Realidade virtual e aumentada, inteligência artificial, machine learning, automação, robótica. Tudo é real, está acontecendo e o desenvolvimento dessas tecnologias está bem avançado. Mas o mais legal é que praticamente todas as discussões passam por como elas impactam o nosso dia a dia. Não é a tecnologia pela tecnologia, é a tecnologia a serviço das pessoas e da sociedade.
Ao final, o futuro é agora e está mais perto do que imaginávamos. Todos os avanços tecnológicos com que sonhávamos há 20 anos estão a alguns cliques de distância.
Patrícia Piana Presas é doutora em Administração, especialista em Marketing e atua como professora e responsável por Planejamento e Pesquisa na FAE Business School.
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