05.12.2016
Artigo: Os desafios éticos para uma carreira sólida e respeitada
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Confira a opinião do professor da FAE Léo Peruzzo Jr.
Vivemos num “tempo do interregno”, como me afirmou Zygmunt Bauman numa entrevista realizada em setembro de 2015. O autor da “modernidade líquida” não apenas concorda que os laços sociais estão cada vez mais fracos, mas também que o fluxo da vida em geral caminha para algo que não sabemos o que é. Repensando Bauman, a vida parece dependente química de tempo ou, melhor, queremos fazer absolutamente tudo, em pouco tempo, sem sabermos efetivamente se isso vale a pena. A liquidez da modernidade não apenas encolheu nossos espaços de relacionamento, mas nos tornou dependentes de conceitos como “carreira”, “sucesso”, “profissionalismo”, “formação”, entre outros. O embrutecimento da vida pode ser facilmente constatado quando observamos o papel que a técnica desempenha: trocamos a existência pela burocracia de um organismo chamado “mercado”.
Mas como efetivamente podemos nadar contra o fluxo de um tempo marcado pelos estigmas da produção e das metas? A resiliência ética, capacidade de se adaptar às mudanças a partir de certos princípios fundamentais, especialmente para alguns, parece não ser suficiente para suportar o peso de uma sociedade que padroniza tudo e todos. Efetivamente, vivemos num tempo tecnificado e burocratizado. Por um lado, as pessoas deixaram de existir num espaço físico para adentrar um espaço virtual; por outro, os mecanismos de controle, especialmente o Estado, como apontaria Michel Foucault em Vigiar e punir, têm realizado prorrogadas investidas para a “docilização dos corpos” (adestramento do corpo a certos padrões e estereótipos).
Pensar a carreira profissional significa pensar a carreira pessoal e social. Em tempos de liquidez e descrença, especialmente moral, política e jurídica, não há como avaliar a solidez profissional se não considerarmos parâmetros que estão além da vida empresarial. O cenário pós-contemporâneo que estamos iniciando, desencadeado sobretudo pela revolução eletroeletrônica, só terá êxito se colocarmos a “vida” acima das opções temporais e imediatas.
Porém, como podemos iniciar este processo de decência ética a partir de nós mesmos? Como é possível construir e manter o seu nome numa sociedade incitada pela lógica produtiva? Ou, pior, é necessário abandonar certas referências para oportunizar-se uma existência melhor? Se magia ou sorte funcionassem, Giordano Bruno não teria sido queimado. Estas respostas não estão em manuais de ética ou compêndios sobre o comportamento humano. Particularmente, nos últimos anos, tenho retomado a sabedoria prática de meus pais: honestidade, lealdade, respeito e amor não podem ser oficializados com o reconhecimento de firma em cartório. Entre a “palavra” e a “assinatura”, eu ainda prefiro a força da palavra. Apenas os valores fundamentais, que são universais na perspectiva do jusnaturalismo, podem ser eficientes para lutar contra o enfeitiçamento desta modernidade líquida...
Léo Peruzzo Jr. é professor do curso de Filosofia da FAE e doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina.
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